terça-feira, 27 de julho de 2010


Dez razões para amar Cabo Frio; dez razões para odiar Cabo Frio!


Dez razões para odiar Cabo Frio:


1 – Em uma cidade de quase 200 mil habitantes, subindo para 800 mil no verão, existe apenas uma sala de cinema onde, pasmem, todos os filmes são dublados. “E o vento levou...” chegou aqui há uma semana;


2 - Em cada metro quadrado existe uma pessoa erguendo a mão na sua cara para você pegar um pedaço de papel com propaganda de feitiçarias baratas como “TRAGO SEU AMOR DE VOLTA EM TRÊS DIAS” (quando tudo que você quer é o que seu “amor” desapareça em três segundos). E não importa se você está carregando peso ou várias bolsas; a mão está sempre lá, na sua cara, como um filme que você não consegue esquecer. MEDO.


3 - Não há uma pizza que preste. U-M-A. Pode procurar.


4 - A dificuldade enorme em fazer com que as pessoas te entendam, o que te leva a questionar sua sanidade mental ou sua capacidade de comunicação. Ás vezes chego a pensar que devo estar falando em japonês ou hebraico quando quero apenas saber quanto custa um HD externo na loja da esquina;


5 - Existe um mistério por aqui que faz com que as pessoas, com suas bundas enormes, parem no meio da calçada para conversar, falar sobre a campanha de A ou B ou olhar o preço dos sapatos cafoninhas que ficam nas vitrines, impedindo, com isso, que toda uma multidão, que trabalha, tem fome, tem pressa, tem médico e tem horário continue caminhando. E se você educadamente pedir licença, ainda olham feio e fazem aquele bico: “hum hum, tsc, tsc, pode passar”.


6 - Desafio qualquer barman de Cabo Frio a fazer um cosmopolitan ou um sex on the beach que não pareçam uma vitamina de mamão com laranja. Simplesmente não há este tipo de profissional por aqui. Há algum tempo, em um bar que deveria citar, mas por gostar muito do pai do dono, não o farei, pedi um sex on the beach. Não acreditei quando a bebida chegou fervendo, com uma pedra de gelo derretendo e gosto de picolé barato de beira de praia. Chamei o gerente e, 48 horas depois, apareceu um rapaz pedindo desculpas, dizendo que o “barman” estava jantando EM PLENA HORA DE TRABALHO e que assim, para não deixar o cliente na mão, o garçom fez a gentileza de fazer o drink. Devolvi, reclamei, não paguei e também nunca mais voltei.


7 – Obras particulares por toda a cidade. Prédios, prédios e mais prédios que não se cansam de serem erguidos, o que significa: poeira dentro de casa, crises alérgicas, pedreiros mal educados que às sete da manhã já começam a cantar bem alto o último sucesso de Amado Batista ou dos Morenos; que xingam todo tipo de palavrão e riem diabolicamente uns dos outros. Barulhos para escolher: serra, martelos, trator, etc. UM INFERNO.


8 – Comida. Todas iguais em todos os restaurantes. Saladas mortas e sem graça. Carnes duras. Sobremesas gordurosas e sem criatividade. Sorvetes com gosto de nada. Gente comendo de boca aberta. Crianças que não sabem se comportar à mesa. Adultos piores que as crianças. Encontrar todo mundo que você conhece cada vez que almoça fora. PUTA QUE PARIU!


9 – Vagas para estacionar. Inexistem. Próximo item.


10 – Um único assunto parece dominar a cidade: Alair x Marquinho.

Foguetórios ridículos, dignos de um capítulo de “O Bem Amado”, parte da palhaçada da raposa Alair Corrêa, me atrapalham de ver um filme ou até de escutar Chopin quando estou trabalhando em casa. Não dá pra acreditar que ele ainda faz isso. Não dá pra acreditar que as pessoas ainda conversam sobre isso. Não dá pra acreditar que eu estou escrevendo sobre isso!


Dez razões para amar Cabo Frio:


- Lógico, óbvio - as praias. Toda a extensão da Praia do Forte, a exuberância da Praia das Conchas, a beleza quietinha do Peró. Tudo em seu devido lugar, lindo, charmoso, perfeito.


2 – O Portinho no verão. As pessoas pescando camarão tarde da noite, as águas calmas, a lua imensa e amarela aberta no céu super estrelado.


3 – A Passagem e seus barcos em qualquer época do ano. Suas ruelas vintage feitas com paralelepípedos, suas casas azuis e brancas com a numeração em azulejo, a Casa do Príncipe, os barquinhos com nomes pueris e cores dessaturadas, que podem ser tema de qualquer aquarela ou acrílico;


4 – O pôr-do-sol da Praia do Siqueira, que nunca vi igual. Simplesmente deslumbrante.


5 – As pracinhas. De alguma forma ainda mantêm o ar de interior com seus coretos, jardins e casais namorando.


6 – O pão francês da padaria Conquista. Com manteiga Aviação, bem quentinho, lá pelas seis horas da tarde;


7 – As manicures! Minhas amadas e indispensáveis manicures, Gilda e Dona Erli, sem as quais eu certamente teria garras nojentas como as do Zé do Caixão; sempre de bom humor, fazem o dia ser mais colorido quando deixam minhas unhas bonitas e brilhantes;


8 – As pessoas de quem eu gosto. Elas sabem quem são.


9 – O prédio da Biblioteca Municipal Walter Nogueira. Um casarão do século XVII, azul e branco, com suas histórias por contar, seu pátio pequeno e fresco, do qual se pode avistar o Canal Itajuru;


10 – O Charitas, prédio histórico construído em 1837, que abriga o Museu José de Dome. Existe alguma força ali dentro que me faz sentir calma, acolhida e feliz. E a pintura que Tiita fez de Santa Izabel deixa tudo mais lindo. O piano de cauda que mora no salão principal, o pé direito da construção, suas grandes janelas, seu piso de tábua corrida, um jeito de quem guarda segredos e muitas histórias.


*Sim, tenho razões para amar e odiar Cabo Frio. Mas não esqueço que, quando precisei me refugiar aqui, quando meu mundo desabou, eu me sentava nas dunas sozinha, vendo as gaivotas e os mergulhões, e chorava na minha solitude. E me sentia compreendida e encorajada. Deve ter sido Deus ou a força da natureza ou a minha consciência que dizia que tudo ía ficar bem. E não é que ficou?

Um comentário:

  1. Haha, eu moro em Cabo Frio. Eu tava rondando uns blogs aqui, e vi esse.

    Assim, umas coisas são verdades mesmo, como as pizzas... mas nem todas as carnes são duras que nem você disse. Lá no canal, tem umas picanhas que são ótimas, :D.

    Fica bem ae, até.

    PS: as praias são demais mesmo.

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