quarta-feira, 14 de abril de 2010


Sim. Eu amo as minhas irmãs. Todas peitudas. Todas temos grandes peitos, suculentos peitos, jacas maduras (mas que ainda não caíram do pé, graças a Deus), peitos de verdade, que nunca foram comprados ou fabricados.


Ter tanto peito nessa família significa muito. Sem falar no peitão dela, Janetão, que nos deu de herança os outros peitos. Os peitos para enfrentar, para tentar, para rebater, para defender, para dizer não, para dizer sim, para dizer “ai que merda, me deixa decidir” ou simplesmente peito para chorar a dor. A dor que vem pra todo mundo numa terça-feira qualquer, quando acontece uma separação, quando alguém morre, quando nós mesmas nos sentimos morrendo.


Peito também serve pra isso, meninos. Acreditem.


Ah, sim. Eu amo as minhas irmãs, mesmo quando eu tenho vontade de avançar no pescoço de Lu quando ela me obriga a bater à porta do seu quarto e pedir permissão para entrar como se eu fosse um entregador de pizza. E também quando acho o meu gloss preferido dentro da bolsa dela ou um vestido que eu amava e que acabou virando “roupa de ficar em casa”. Mesmo nessas horas em que eu quero dar na cara dela, eu a amo. É impressionante como o amor de verdade ama na raiva mais absurda (não que achar meu gloss preferido na bolsa dela gere uma raiva absurda, mas quase – principalmente se for algum item da M.A.C).


Eu amo minha irmã Renata, que foi morar na Inglaterra há quase quinze anos. Sua ausência física é sua presença em cada momento – e mesmo acostumada com o não estar dela aqui não faz a menor diferença, porque sei que quando ela estiver a gente vai sentar na cama, abrir uma barra imensa de chocolate e eu sei que vou ouvir dela: “Garota, você precisa fazer uma dietinha...levanta aí o vestido pra eu ver se a sua pança tá muito grande”. E, lógico, a minha pança vai estar grande só pela barra de quase um quilo de Galaxy e pelas caixas de shortbread que ela insiste em trazer (e que eu nunca peço – tá bom, tá bom, sei quem é o pai da mentira).


Eu amo a minha irmã Renata porque em uma noite gelada em um momento glacial da minha vida, ela veio, toda magrinha e elegante, no aeroporto de Manchester, me abraçar e demonstrar que estava feliz por eu estar ali, só por eu estar ali – mesmo quebrada, machucada, toda cheia de hematomas no corpo e na alma – seu abraço me curou na hora, e continua me curando até hoje.


Eu amo as minhas irmãs porque todo o nosso universo foi construído em lilás e cor-de-rosa:


- Cadê meu perfume?


- Me empresta o seu top?


- Quem pegou aquele meu batom novo que eu comprei com o dinheiro da minha mesada? Quem é que quer morrer?


- Não fui eu que peguei seu livro! Deve estar jogado naquela sua mochila imunda!


- Dá licença, professora, eu queria falar com a minha irmã.


- É o que, garota? Ainda bem que você me tirou dessa aula chata de matemática, eu não tava entendendo nada mesmo. Tá, toma o meu short de educação física, mas traz depois do terceiro tempo porque eu tenho que ir, não posso mais matar nenhuma aula...vai, vai...


- Telefone pra você, é o Bruno, irmão da Vanessa...Não, Bruno, ela não quer falar com você, seu merda!


- Me dá um pedaço do seu salgadinho?


- Pô, animal, tirou o maior pedação, não te dou mais nada!


- Cara, para de comer amendoim, vai te encher de espinha!!!


- Garota, cala a boca que eu tô vendo a novela!


- Não acredito, você pegou aquele canhão? Aquele cafona baixinho da igreja? Ahahaha, cara, não acredito! Você foi no calor ou pelo menos o carro dele tinha ar condicionado? E a conta, ele pagou? Claro, né? Vou contar pra todo mundo se você não me emprestar aquela bolsa nova que vovó te deu de aniversário!


- Mãe...são 3 horas da manhã e Renata ainda não voltou...saiu com Bia...mas mãe...Bia bebe muita cerveja e já ficou com todos os garotos de Cabo Frio...ela é muito sem noção...tá bom, tá bom, vou ligar. “Alô? Garota, onde você tá? Volta pra casa!” – “Alôooo...hã? Onde eu tô? Aqui no Cilada...” “No Cilada??? Mamãe tá mandando você voltar, garota! Se você não voltar eu vou aí te buscar e você vai pagar o maior mico!!!”


- Lu, você pegou meu estojo por quê? Por que eu não estava usando? Ah, tá! Então agora eu me apodero de uma coisa que não é minha só porque a pessoa não estava usando? Isso existe?


- Calma, era hora de ele ir...chora, pode chorar...mas Deus quis assim, vovô foi antes que viessem os maus dias...Vai passar, Lu, vai passar...


- Nata...eu to te ligando pra te avisar...que vovô...não resistiu à cirurgia...


- Ah, não, vamos à Harrods, por favor? Lá tem Krisps´n´Cream e eu preciso, preciso, preciso comer aqueles donuts!


- Garota, para de loucura! Você já tem muita maquiagem! E olha só, no Asda você compra uma sombra parecidona com essa, só que três vezes mais barata.


- Tá, só que eu quero essa da Bourjois. Aproveita e pega logo três pacotes de Jaffa Cake pra eu ir comendo no trem pra Leeds!


- Cara, você vai estourar! E a cobertura nem é de chocolate de verdade! E vê se para de ir para o Evil´s Eye tomar vodca com aqueles estudantes que não penteiam o cabelo! Você só gosta de gente esquisita!


(Dez horas da manhã, sinal de mensagem do celular: “olha aí na geladeira que eu acho que o frango passou da validade. Cheira e vê se ta podre. Bjs.” – detalhe: faltava quase uma semana para vencer o pobre do frango).


- Vi, olha só, se você for se encontrar com aquele maluco do Bob, vai no Slug and Lettuce que fica no centro. É, aquele à beira do rio. Não vai longe, não. E se ele for um estuprador? E se ele te esquartejar? Tá rindo? Aqui eles fazem isso direto! Deixa o seu telefone ligado e cuidado para ele não colocar nada na sua bebida! Segura o copo o tempo todo, hein? Entendeu? Não pode largar o copo nem um minuto! É sério! Entendeu? Entendeu, garota (olhar de paranóia) ? E presta atenção se for beijar, os ingleses costumam ter os dentes podres! Deixa ele rir pra você NA LUZ! Ai você decide se beija ou não, ENTENDEU? Para de rir! É sério! Para de rir, garota!!!


- Quê? Você tá vindo atrás de mim? O celular tá aqui, eu não tava ouvindo suas ligações, tá o maior barulho! Garota, você tá maluca, tá a maior chuva, a gente tá aqui nessa merda desse O´Neil e ele é um chato! Eu já vou embora, esse cara só fala de futebol! Ou eu sou muito baranga ou ele é doente! Gastei minha maquiagem nova à toa para me encontrar com esse sem noção! Tá, vou dar um jeito de vazar, fica aí que eu te conto!


Sim, sim, como eu amo as minhas irmãs! O que seria da minha vida sem elas, se após eu nascer ela foi dividida em três? Como eu posso ser uma se três habitam o meu corpo?

Obrigada, mamãe peituda, pelas irmãs peitudas que você meu deu.

Ah, eu amo, amo as minhas irmãs!


Agora dá pra me devolver aquele blush em creme que era meu???


Viviane Rocha

2 comentários:

  1. Neida, você é demais!!! adoro os seus textos!!! Me senti parte da sua família com todo o res(peito).

    Gustavo Rocha

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  2. Hahahahahah! Com todo o res(peito) foi ótimo!!
    Um beijão!!

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