Laurentino Gomes, autor de “1808” e “1822” abre a Semana Literária na Livraria do Boulevard e concede entrevista exclusiva
O badalado autor Laurentino Gomes, que escreveu o best seller “1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil” com mais de 600 mil exemplares vendidos, e, mais recentemente, “1822 – Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado”, livros que contam e recontam com clareza, humor e leveza a história da fuga da Corte Real Portuguesa e da Independência do Brasil, esteve em Cabo Frio no dia 8 de outubro para abrir a Semana Literária da Livraria do Boulevard.
Através do livro “1808”, o autor ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, nas categorias Melhor Livro Reportagem e Livro do Ano de Não-Ficção. Além disso, sua obra também foi eleita o Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras, permanecendo até este ano na lista dos livros mais vendidos no Brasil e em Portugal.
Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduação em Administração pela Universidade de São Paulo, Laurentino Gomes trabalhou como repórter e editor para o jornal O Estado de São Paulo e a revista Veja e foi diretor da Editora Abril. É membro titular da Academia Paranaense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Um dos principais méritos de Laurentino Gomes é descobrir personagens esquecidos da história, como o escocês Lord Alexander Thomas Cochrane, elemento que praticamente definiu o desfecho do conflito entre europeus e sul-americanos.
Em sua mais recente obra, “1822”, e com a expectativa de ultrapassar os mais de 600 mil exemplares vendidos com “1808”, o autor continua a contar a saga da Corte Real Portuguesa no Brasil e a sua Independência, no qual o personagem central é, sem dúvida, Dom Pedro I, mas sem esquecer personagens indispensáveis como o estadista e conselheiro do príncipe, José Bonifácio; a princesa Maria Leopoldina e o primeiro almirante da armada nacional brasileira, o mercenário escocês Thomas Cochrane, ou Lord Cochrane, além da amante de Dom Pedro I, a paulista Maria Domitila de Castro Canto e Melo, que recebeu o título de Marquesa de Santos. Todos esses personagens tiveram uma participação muito importante no processo que resultou na Independência do Brasil e na reestruturação de um país falido, movido por desconfianças das cortes lusitanas e influenciado por movimentos separatistas, republicanos e abolicionistas por todo o território.
Em entrevista exclusiva concedida na Livraria do Boulevard à repórter da Assessoria de Cultura de Cabo Frio, Viviane Rocha, o autor Laurentino Gomes falou sobre um pouco de tudo: educação, incentivo à leitura e, claro, História.
VR: Muitos de nós aprendemos uma História mal contada na escola. Faltou dar importância a personagens de destaque, como José Bonifácio, por exemplo. Fatos importantes foram omitidos e fatos não tão importantes foram super valorizados. Por que o senhor acha que isto aconteceu?
LG: Na verdade, a História é uma disciplina muito facilmente manipulável, seja porque quem quer que esteja no poder. Houve, com certeza, um interesse político em ocultar alguns fatos e super valorizar outros. Hoje, o Brasil está colhendo os primeiros frutos de uma democracia de 25 anos consecutivos, e isso é mérito do governo que está chegando até o leitor. Nosso País está passando por um momento de uma profunda reflexão histórica e isso se reflete na reformulação da Educação e, consequentemente, em uma forma mais consistente de contar a nossa História. Na verdade, a História é um conjunto de fatos e acontecimentos que justificam políticas presentes, e que continua mudando.
VR: Hoje em dia os leitores se interessam mais por livros de História?
LG: Sim, claro. E por leitura de modo geral. Isso é resultado direto da queda do índice de analfabetismo. E o interesse específico pela História aparece quando ela é contada de maneira acessível, sem o linguajar sisudo das teses acadêmicas. A matriz do meu trabalho vem de uma narrativa jornalística, que é a minha formação. A apuração que fiz foi toda jornalística, investigando fatos e até mesmo estando presente onde eles aconteceram. E, como gosto muito de História, escrevo sobre ela com esta narrativa e através deste viés jornalístico. Vejo com muita alegria o fato de a História estar se tornando popular.
VR: Como o senhor vê a realização de programações literárias, como esta que estamos realizando aqui na Livraria?
LG: Olha, eu acho isso importantíssimo. Desde que comecei a rodar o Brasil com as minhas palestras, tenho percebido o quanto festivais e encontros literários aproximam o leitor do autor. O autor deixa de ser aquela pessoa distante, escondida atrás do livro e passa a estreitar o eixo cultural na sociedade, estabelecendo uma relação mais próxima com quem o lê. Eu adoro conversar com meus leitores, entender o que eles pensam, tirar qualquer dúvida. Acho essa iniciativa fundamental, mas acredito que faltam mais eventos como estes no Brasil.
VR: O senhor acha que existe preconceito em relação aos gêneros literários?
LG: Sim, há um preconceito bobo quando alguém fala que tal pessoa só lê a saga Crepúsculo, gibi, mangá e Harry Potter. Esse tipo de preconceito não tem o menor fundamento, pois é através também deste contato que a criança e o adolescente vão começar a se envolver na leitura. Hoje, as crianças estão lendo esta literatura, mas lá na frente, daqui a alguns anos, este leitor já vai se interessar por outros gêneros, outras vertentes, pois aprendeu a gostar de ler.
VR: Como o senhor acredita que a leitura deve ser incentivada?
LG: O mais importante é entender o hábito da leitura como prazer, e não como obrigação extra-classe. Como uma criança toma gosto pela leitura? Lendo gibi também! O importante é que ela aprenda a gostar de ler, e isso com certeza não virá com livros de romance ou não-ficção apenas. A leitura precisa ser associada ao prazer, e é muito importante que os filhos observem os pais lendo, e que os pais leiam junto com os filhos. Ler não apenas na escola, mas principalmente em casa, com a família.
VR: Cabo Frio tem uma média de 200 mil habitantes. O senhor acha que em cidades menores se lê menos do que nas grandes capitais?
LG: Pelo que eu tenho observado nas minhas viagens, já acho o contrário. Em cidades menores há mais tempo para a leitura. As pessoas não ficam horas no trânsito caótico como o de São Paulo, nem ficam duas horas em pé dentro de um ônibus. Com melhor qualidade de vida, há menos cansaço e mais tempo para ler.
Nos dias seguintes, a Livraria do Boulevard recebeu mais autores para um bate-papo e tardes de autógrafos: os professores Sérgio Nogueira, do Soletrando, quadro do programa Caldeirão do Huck; Denise Salim, especializada na obra do autor João Ubaldo Ribeiro; Nei Lopes, compositor, cantor e escritor, além de André Valente, professor de Lingüística da UERJ e o imortal Carlos Heitor Cony. A semana foi encerrada com chave de ouro com a presença do compositor, escritor e cantor Paulinho Moska.
Livraria do Boulevard
A Livraria do Boulevard, inaugurada em agosto deste ano, é um espaço super agradável, que conta com uma charmosa cafeteria onde se pode experimentar o chocolate quente mais gostoso e diferente de Cabo Frio, além de ter um cardápio especial. É todo decorado de maneira artesanal, com fadinhas de vários tamanhos e cores que pendem do teto; brinquedos artesanais de madeira, cada um talhado à mão; lindas bonecas de pano espalhadas pelo ambiente, brinquedos de pelúcia e um cantinho todo especial reservado somente para as crianças.
Além de todos os tipos de gêneros e editoras comercializadas no Brasil, também é possível encontrar na Livraria do Boulevard presentes muito especiais: as bonecas alemães feitas de porcelana, com detalhes e acabamento perfeitos, vestidas em trajes de época, que vêm acompanhadas de acessórios.
A proprietária da Livraria, Andrea Paes, conta como surgiu a ideia de criar um espaço diferente em Cabo Frio:
- Havia um público carente de uma livraria que não fosse “apenas uma livraria”, mas um espaço cultural também, onde se pudesse tomar um capuccino folheando um livro e conhecendo as novidades. Quis que a decoração fosse toda artesanal. Os brinquedos, cada um, desde a fadinha até as bonecas de porcelana, são todos artesanais. Decorei a Livraria como se estivesse decorando um espaço da minha casa – conta.
A Livraria do Boulevard está localizada à Rua Major Belegard, 409 – Centro. Funciona de segunda a sábado das 10h às 22h e aos domingos das 12h às 22h. As compras podem ser parceladas em até seis vezes sem juros no cartão de crédito. Não encontrando o livro que procura, basta apenas o cliente encomendar.
Telefone: (22) 2643-1384
Viviane Rocha Moreira Lima