terça-feira, 1 de junho de 2010

A caminho do Tibet


Eu? Vivo usando luvas de pelica, caríssimas e delicadíssimas, para não ferir você ao te tocar, meu caro. Mas esfolio meu rosto com minhas mãos infestadas de caroços de milho ao me deitar.


Eu, exemplo vivo da caridade, não te abandono, meu próximo, porque temi a minha vida inteira magoar-te: amar ao teu próximo, amar ao teu próximo, amar ao teu próximo.


Com você, divido as coisas mais estranhas que penso, entrego meus momentos, os mais escondidos e os mais intensos, e depois disso vou, lentamente, esbofetear meu rosto com um pedaço de couro, até que nele se enxergue o buraco negro da autopiedade, do medo, e enxugo minhas lágrimas de boldo com a toalha que estaria na mesa que eu deveria virar.


A você, meu próximo, com quem partilho sonoras gargalhadas, com o qual troco idéias e aprimoramentos da evolução DES-humana, digo esta noite: FODA-SE.

FODA-SE para a sua dor, para os seus desastres, para qualquer coisa que venha de você. FODA-SE para a sua leitura da vida, FODA-SE para as pancadas que ela também te deu, FODA-SE para você que um dia achou que você fosse eu.


Hoje, caríssimo próximo, despeço-me de você como quem deixa a vida mundana para morar no Tibet; não tenho endereço, não tenho telefone, nem fumaça sei fazer; dou as costas alegremente ao seu sorriso, ao seu choro, ao que você tenta me dizer.


Caminho por onde quero, e só a Deus devo e preciso pedir perdão. Perdão por ser tão entregue, perdão por ser só medo e espontaneidade, perdão por não ser como o próximo, o caridoso próximo, que só pensa no meu bem, no meu e no de mais ninguém...


Perdão por não ser como você, meu próximo, seja você quem quer que seja...ele, ou ela, ou eles, ou elas. Ou todos eles ou todos vocês...ou eu...
Quem é o próximo antes de mim???




">

Um comentário: